Choisir, c'est renoncer
Olá, tudo bem?
“Choisir, c'est renoncer”. A expressão francesa significa “escolher é renunciar “. E como me fez bem conhecer essa expressão! Define tanto de mim.
Para cada escolha na vida, são inúmeras renúncias.
Algumas renúncias são fáceis de lidar. Outras são insuportáveis sacrifícios.
A língua francesa é linda. Na literatura, tem a profundidade, a sonoridade, a potência dos sentimentos. As palavras são bonitas.
A França inventou o cinema. Só por isso já merece o meu respeito. A França brindou o mundo com o idioma mais musical, mais suave, mais precioso. Uma canção francesa tem a dramaticidade das noites. Não são músicas de dias ensolarados, mas de noites enluaradas.
Escolher é renunciar.
Já fiz escolhas necessárias e importantes. Que me obrigaram a renunciar a pessoas, lugares, situações, trabalhos.
Lembro de um trabalho que me foi oferecido em São Paulo, logo que tive o meu filho. Patrick estava com quase dois anos. Eu deveria ajudar a criar um programa de televisão e ser uma das roteiristas quando este estreasse. Passava terça, quarta e quinta em São Paulo.
A renúncia foi dolorosa. Deixar o meu bebê com a minha mãe. Até hoje sinto culpa e arrependimento. Ser mulher e mãe é estar sempre com o sentimento de culpa no coração. Um peso.
Mas foi tão necessário naquele momento de pouca demanda de trabalho. Precisava me sustentar e ao meu filho.
Eu detestava a situação. O programa era um lixo. Cafona de doer. Mas eu precisava passar por aquele momento e superar a minha angústia.
Durou três meses. Eu ficava num quarto de hotel horrível. E chorava todas as noites só de pensar no meu filho longe de mim.
Escolher é renunciar.
Lembro que comprei um carrinho imenso para o meu filho e o vi se divertir dirigindo na sala do nosso apartamento. Era uma compensação emocional encher o meu filho de presentes. A alegria do meu bebê era o que me fazia ter forças para entrar no avião e voltar para São Paulo. Coloquei armários embutidos nos quartos e troquei o piso. O apartamento era o lar bonito que o meu filho merecia.
Tanto escolhi, tanto renunciei.
Já deixei um trabalho por um grande amor. Eu tinha de morar na Europa com ele. Pedi demissão de um trabalho que muitos venderiam a mãe para obtê-lo. Mas eu estava embriagada de amor. Sem beber uma gota de realidade.
Ele viajou antes. Fiquei com as malas prontas.
Fui traída. Soube por uma amiga que conhecia a fulana. Ela viajou atrás dele. A amiga foi na minha casa e disse: “Você tem que ser forte para ouvir o que eu vim te dizer. Mas não posso deixar você ser enganada”.
O meu grande amor virou uma das maiores decepções da minha vida. Fiquei muito mal. Deprimida. E com vergonha de mim mesma.
A televisão me chamou de volta. Todos me olhavam com tristeza e uma ponta de piedade. Conheciam ele. Estava sempre comigo. No bastidor, nas festinhas, nos jantares que eu adorava fazer em casa.
Ninguém acreditava na traição. Era um amor tão romântico.
Escolher é renunciar.
A situação dele não deu certo na Europa e ele voltou ao Brasil seis meses depois. Ele ligava para a minha casa e a minha mãe filtrava. Mandava ele sumir da minha vida. Eu só soube que ele ligava tempos depois. Minha mãe temia que eu o perdoasse e voltasse com ele. Fiquei com muita raiva dela. Foi muito difícil viver tudo aquilo.
Demorou a passar aquele sentimento de perda. Vivi um luto.
Escolher é renunciar.
E assim guardei a expressão francesa para mim. Só eu sei das minhas escolhas e das minhas renúncias. Das minhas coragens.
Estou com saudades da França. Quero levar Patrick para conhecer os lugares que amo. E que ele já tem discernimento para dar valor. Em novembro de 2022, viajei sozinha. Ele quis ficar no Brasil. Dei o direito de escolher. Eu me arrependo de não o ter levado. Agora, o meu filho vai perceber como é bom fazer escolhas. De ir ou de ficar. Mas com sabedoria. Que só os anos trazem.
Um beijo, Leticia.